domingo, março 04, 2007

Live to travel or travel to live?... that is the question!

Começou assim, do nada, como quem não quer a coisa... e já é vocação.
O meu querido e paciente companheiro diz-me que eu ainda não acabei uma e já estou a pensar na próxima! Não dá, é mais forte do que eu: adoro viajar! E trabalho para viver para viajar, disso não me resta dúvida. Viajar torna-nos invariavelmente mais humanizados, mais tolerantes e permeáveis à diferença, ao outro que não come nem veste o mesmo que nós, que não reza da mesma forma, que não tem os mesmos hábitos, mas sente sonha e sofre como qualquer um de nós. Durante as minhas viagens, conheci alguns viajantes curiosos. Chamar-lhes-ei turistas acidentais. Havia aquele octogenário na Tailândia que só queria comer bitoques, a senhora na China que recusava liminarmente os 'pauzinhos', a outra na India que estava horrorizada com tanta pobreza e imundície e só queria voltar para Lisboa; ou aquele grupo de americanos alojados na gloriosa Pousada Rainha Santa Isabel, em Estremoz, que saía para comer hamburgueres! E muitos outros!
Também já fiz duas ou três: aquela vez que recusei entrar num templo hindu pejado de trampa de macaco e água da chuva, de pés descalços; ou da outra em que encenei uma doencinha gástrica para não comer insectos fritos... (sempre sob o olhar reprovador do meu companheiro, que em Roma é sempre romano!!)
Minudências à parte, retiro de todos estes companheiros gratas lições, quanto mais não seja, dou-os como exemplos caricatos de pessoas que até gostam de viajar mas não aceitam lá muito bem as idiossincrasias alheias.
E também me acontece algo curioso: quanto mais tempo passa, melhor recordo certos pormenores, cores e cheiros, até o brilho da luz do sol a determinadas horas da manhã...
Até há pouco, tinha dúvidas se conseguiria viajar com pessoas que não me fossem particularmente próximas, e de partilhar com elas os meus rituais íntimos do quotidiano... Já não as tenho: consigo!
E a propósito de companhia, tenho-as de todos os tipos e todas elas muito especiais: não as troco por nada deste mundo; são todas pessoas maravilhosas e especiais, e sabem transformar o dia-a-dia por esse mundo fora em pura magia! E das pouquíssimas vezes em que a magia não aconteceu, remédio santo: risquei-as do meu cardápio de viagem!
Para terminar, o meu top 3: India, Polinésia e Nova Iorque! Assim mesmo, e sempre na melhor companhia...! Próximo destino: ?????? Soon! Very soon!

1 comentário:

Afronauta disse...

Viajar tem diferentes significados: há quem pense que é ir para longe,
que é descobrir lugares exóticos e inexplorados, culturas estranhas,
há quem julgue que é simplesmente sair do local onde se vive. Vejo
muita gente em busca de cores, cheiros, idiomas, paisagens diferentes,
mas raramente encontro quem se deleite com as viagens da alma. Andamos
por este mundo em busca insaciável do concreto, do palpável, do
visionável, do que nos desperta os sentidos e esquecemos que a maior
das viagens é ao espírito de quem está mesmo ao nosso lado.
Continuamos anónimos, desconhecidos e distantes de quem nos vai
visitando a vida, pouco aprofundamos as relações, a não ser quando
alguém adquire o estatuto de amigos. Andamos nesta correria louca que
nos oferece inúmeras desculpas para não passarnmos de uma conhecimento
superficial e quando viajamos para outras paragens mergulhamos mais
fundo no coração de quem encontramos. Cada um de nós é um mundo cheio
de mistério e exotismo, um universo infinito de possibilidades, ali
tão perto e ao alcance de uma conversa. Adorarei ser um Globetrotter
espiritual e conhecer cada vez mais e melhor o meu semelhante. Dessa
forma estarei em melhores condições de descobrir outras paragens, já
que a essência das natureza humana não me será tão estranha. Até o
exotismo é feito à medida das nossas necessidades e expectativas e
procuramos magia, mistério só até ao limite do nosso grau de
aceitação. "Ser romano em Roma" nem sempre é a melhor postura porque
por um lado deixamos de estar à margem por forma a observar melhor o
que acontece e porque isso implica um envolvimento maior de maneira a
perceber o que se vivencia.
No fim das contas a maior contribuição de todas e quaisquer viagens
para o nosso crescimento não é mais do que a capacidade de relativizar
tudo o que antes de qualquer jornada é um dado adquirido. O valor das
coisas muda, as prioridades alteram-se, pelo menos na nossa cabeça e a
nossa vida comparada com outras desloca-nos do etnocentrismo a que o
dia-a-dia nos condena utilizando a torto e a direito a expressão
"normal" para caracterizar o que é ou não aceitável, comum.