terça-feira, julho 03, 2007

O silêncio da inocente.

Bom, na verdade, o meu silêncio também teve razão de ser, cansaço e sono à parte.
Mas para o explicar - ao silêncio - hei-de recuar umas decadazinhas na História deste nosso Portugalinho.
Começo por dizer que a 'História' sempre foi das minhas disciplinas favoritas na escola. Não fosse o Inglês a minha disciplina de eleição e ter-me-ie dedicado todinha à História: nunca me custou nada estudar aqueles maços intermináveis de fotocópias com que os professores nos prendavam e, mesmo na universidade, quando a História "pôs as garras de fora" - na Linguística, na Teoria da Literatura, na Sociologia e na Psicologia - nunca me arranhei! Pelo contrário: tudo para mim se encadeava numa linha lógica!
E tive uns professores de História do caneco: só me lembro de duas: uma baptizámo-la de "Moca do Egipto" e era surda selectiva - nunca deu por ela que nós lá estavamos! - e a outra... não me lembro!
Não me recordo de nenhum período que desgostasse em particular, e o meu favorito foi a Crise 1383-1385, da qual surgiu o meu herói de sempre, D.João, Mestre de Aviz. Cavalga para sempre o meu imaginário romântico nacional como o herói que pôs fim a um período de anarquia!
E depois, a Revolução Francesa! Ah, la Revolution!! adorei, adorei, adorei! A guilhotina, as cabeças a rolarem umas atrás das outras, Paris caótica e fétida, e a minha heroína mais romântica de todas, Marie-Antoinette!
Ahhh, já me imaginava a correr,
com passinhos leves,
pela madrugada de Versailles,
naqueles vestidos maravilhosos, inundada em fru-frus,
... cheia de amantes!!
Mas houve um período que eu nunca estudei e sempre achei que era uma falha grave na minha formação, enquanto cidadã: o Estado Novo. O que sabia, e de ouvido, era que tinha sido um período de ditadura, havia a PIDE, o Tarrafal, passava-se fome e, por tal, milhares e milhares de portugueses emigraram - diziam uns. Outros diziam-me que no tempo do Salazar é que era bom, que havia segurança e que não se viam as 'poucas-vergonhas' que agora se vêm!
... tudo isto me baralhava um bocado, resolvi o assunto por conta própria, e formei o meu próprio juízo sobre a época.
Mas, de uma coisa estive sempre certa: havia distância entre 'eu' e estas histórias na História de Portugal! A mesma distância que me separa do meu herói, D.João, ou da minha Maria Antonieta.
Distância, a palavra-chave!
... até há uns tempos atrás, pois!!
Agora,
hoje,
a palavra-chave é
'SILÊNCIO'
É que hoje, agora, nenhum de nós sabe quem nos espreita por cima do ombro, ou se esconde debaixo da mesa, devassando-nos as inconfidências e espiolhando-nos as ingenuidades. E mesmo quando assim não é - já que pensávamos todos que vivíamos num país onde era possível expressar as nossas vontades em "mandar abaixo de Braga" um que outro político/governante! - não nos passava pela cabeça que tal haveria de ser motivo de processo disciplinar, dispensa de serviço, reforma compulsória ou despedimento puro e simples!!

Mas há sempre um lado positivo:
para aqueles que, como eu, desconheceram os tempos da ditadura, da delação, dos ventos 'pidescos', esses, como eu, têm agora uma oportunidade ÚNICA de experimentá-los em primeiríssima mão!
Daí...

... ssshhhhhhhhhhhhh...

2 comentários:

Anónimo disse...

Ah a História! E os profs? Ah! a História!

Teresa Salomé Alves da Mota disse...

Pois eu, minha querida amiga, vou fazer exactamente o contrário... Vou falar até que a voz me doa e estou para ver...
Salomé