ASAE

Há já um tempo que este assunto fervilha na minha cabeça e, como sou assídua espectadora dos telejornais do 'prime time' tenho testemunhado o desvelo quasi-religioso com que os inspectadores da ASAE irrompem pelos estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e mercados por esse país fora, fechando tudo! Lembro-me da pena que tive daquelas pobres peixeiras que coziam o camarão em casa para depois o venderem na praça e, pumba!, aparece lá a ASAE e confisca tudo e encerra a praça por falta de condições e higiene. Disseram que faltava lá uma cozinha!! As peixeiras choravam desalmadamente os lucros perdidos!

Claro que concordo - nem faltava mais nada! - com a existência de uma tal instituição veladora dos interesses do consumidor e da saúde pública! Claro que admito a existência de estabelecimentos de restauração que mais se assemelham a covis ou pocilgas pois, aqui como em todo lado, há quem ache que para limpar e dar de comer qualquer um serve!

Mas hei-de também aqui sublinhar com algum desgrado que o que é de mais é moléstia, e a ASAE - às vezes!- passa das marcas!

E vou um pouquinho mais atrás no tempo!

Há coisa de um ano lembro-me de ler uma crónica do Miguel Sousa Tavares no Expresso, no qual ele vociferava contra esta qualidade tão nossa da obediência cega às normas europeias na área da Higiene e Alimentação!

E eu concordo com ele!

Proibiram-nos as colheres-de-pau! Acatámos!

Obrigaram-nos a calçar luvas para mexer no pão e bolos e sei-lá-mais-o-quê! Acatámos!

Proibiram-nos os galheteiros na mesa! Acatámos!

Proibiram-nos os "jaquinzinhos"! Acatámos!

Proibiram-nos as petingas! Acatámos!

Proibiram-nos o cigarrinho à mesa (...acatámos esta???) e nos recintos públicos! Acatámos!

Somos muito obedientes, mesmo!

Parece que temos um défice de autoridade:

não podemos ouvir uma ordem que obedecemos logo!

Claro que, entretanto, lá nos vão dizendo que na Europa civilizada estas são as normas... e é claro que não queremos ficar na cauda da Europa, sobretudo na higiene, pois não? NÃO!

Ora, por acaso, até tenho a fortuna de, e volta e meia, viajar por aí fora e constatar umas quantas coisitas sobre esta nossa família europeia!

E o que vejo dava para deixar a nossa ASAE de cabelos em pé: mexem no dinheiro com a mesma mão com que manuseiam a comida; servem louça imunda como se fosse lavada, ainda com as marcas do último batôm lá gravadas; qualquer lugar, por pequeno que seja, serve para servir uns "comes"; ou então os "comes" estão expostos aos elementos - e não é ao sol nem à chuva mas aos escapes e outros fumos poluidores... eu sei lá!

Mas eu até nem sou contra! ... tirando a parte da imundície, claro!

Nas grandes cidades acho mesmo um verdadeiro festim para os sentidos

toda aquela profusão de cheiros e cores e vapores,

de alimentos a ser preparados e cozinhados!!

E foi num destes sítios, assim, no mercado caótico de Camdem Town, que o meu pensamento voou até à lusa instituição e pensei na trabalheira que os nossos inspectores iriam ter só para meter estes ingleses transgressores na ordem!!!

E termino com um conselho humilde às peixeiras do nosso país: emigrem!

No resto da Europa, podem transgredir à vontade que ninguém se importa!!!