...tive de ir aos CTT.
Lá fui, e quando lá cheguei descobri que tinham mudado de sítio. Bom, lá fui para o local novo, novinho em folha, todo 'tecnológico': máquina para tirar o "tiquê" para o atendimento desejado; ecrã LCD para divulgar o balcão e respectiva senha; máquinas de venda de selos, livraria-papelaria-correio-e-telefones all-in-one!!
O verdadeiro choque tecnológico!
Como ainda tinha quase 50 pessoas à minha frente, deixei-me deambular por ali, observando...
E observei que as infraestruturas são óptimas. O que me provocou uma sensação incómoda foi o factor humano: para mim, estas alterações radicais na modernização dos serviços ao cidadão - ainda que muito boas - causam-me uma certa tristeza.
Explico.
A estação de correios estava cheia de velhotes; era início do mês e deveriam estar a levantar as suas reformas; alguns queriam enviar cartões postais e outros comprar selos. Alheios, quase todos, às informações do ecrã digital que chamava as suas senhas, alheios às ´modernas máquinas de venda de selos. O ambiente estava quente e quase irrespirável.
"Ó menina, leia-me aqui o número, que não vejo!",
"e agora para onde é que eu vou?"...
Faz-me raiva que os nosos gestores e directores e autarcas e governantes se empenhem tanto no "choque tecnológico" sem perceber que temos um povo profundamente envelhecido, para além de iliterato, que não percebe nada destas modernidades, e tem de fazer-lhes frente, agora, assim!
Uma velhota, que só queria enviar um postal, andava de um lado para o outro com um patinho de borracha na mão que fazia 'quá-quá' e que uma vizinha lhe tinha dado porque era muito engraçado.... Se alguém fizesse contacto visual com ela, contava logo esta história enquanto esborrachava o patito na mão num interminável 'quá-quá-quá' que me estava a dar cabo da paciência. Se calhar exagero, mas acho que ela queria mesmo era passar algum tempo ali...
Aos velhotes das reformas as empregadas berravam alto a contagem do dinheiro; e eles, lá o metiam no envelope da reforma e, depois, no saco plástico...
Havia outras senhoras, muito sentadas, com aquele ar de quem acabou de largar a enxada porque tiveram de ir à cidade, ao correio; outra senhora entrava e olhava para todo o lado e não percebia nada. E foi para o balcão; não entendia porque estava as pessoas espalhadas pela loja. Até que a empregada lhe berrou que tinha de "tirar uma senha para resolver o assunto pretendido". Ao que ela respondeu, com aquele 's' sibilado à moda de Viseu "e unde é a xenha? é qu'eu num xei ler, xenhora." Alguém foi tirar-lhe a senha e prometeu dizer-lhe quando fosse a vez dela.
...que saudades ela terá de esperar para ser atendida com a barriga encostada ao balcão!
Quando chegou a minha vez, já só queria ir embora dali.
1 comentário:
No mundo da globalização a "criação de valor" para os accionista é prioritário. Perderam-se as relações pq não não interessa perder tempo. Os clientes são um numero, os colaboradores são um numero, é tudo um me...a de um numero. Por isso há cada vez mais pessoas insatisfeitas e sós
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