
É certo que não podemos escolher a família!
Diz-se das situações em que os mais próximos, por sangue ou laços políticos, nos deixam de tal forma exasperados e consumidos que das duas uma: ou desatamos ao bofetão e acabam-se os laços, ou reduzimo-nos à nossa insignificância e juramos vê-los na próxima Páscoa, do próximo século!
Mas também não podemos escolher com quem trabalhamos!
Eu não, pelo menos!!
No sítio onde trabalho - vai para quasi vinte anos! - o poder é rotativamente distribuído pelas mesmas personalidades, garantindo assim a homogeneidade 'política' e a perpetuação da 'linhagem familiar'. Numa palavrinha, melhor,em duas "é complicado" aceitar a ideia nova... sempre que ela esbarre com o status quo, evidentemente!
E foi nisto que esbarrei um dia destes, quando um colega de trabalho propôs que fosse instituído um prémio de mérito!
Assim, simples e objectivo: um prémio de mérito académico ao aluno que se distinga pelas suas notas, fruto do seu trabalho!
Transportas as primeiras dificuldades burocráticas - que perfil, que sexo, que notas, que diabo-a-sete-que-há-povo-que-adora-complicar - eis que se insurge uma voz que ressonou - sim, que aquilo foi um ronco, tão estúpida me pareceu! - que o mérito era fascista!
Sim, fascista!
Já em contexto mais informal, com uma réstia de esperança que o ronco tivesse sido uma chalaça infeliz, indaguei sobre a mesma. Queria mesmo saber se aquilo era a sério: que sim!
Que o mérito académico é um tique fascistóide, que inviabiliza a solidariedade, que todos sabemos que os mais ricos, porque podem mais e têm explicações, são os que tiram melhores notas, que é por isso que o mundo está como está, que é por isso que somos uma cambada de individualistas egocêntricos, que blá-blé-bli-bló-blú!
Confesso que fiquei profundamente atordoada com este chorrilho ressonante! E continuou a ressonar nos meus ouvidinhos... tanto, que estou com muita dificuldade em sequer 'ensalivar' - quanto mais digerir! - esta treta reaccionária!
Nunca tal havia ouvido: o mérito é fascista!
Tratando-se de um professor, pergunto-me de que forma prepara ele os seus alunos para a integração no mundo real; neste mundo, onde idealmente se triunfa pelo trabalho, pelo esforço e por isso, pelo mérito, que raio de mensagem passa este senhor a quem conduz pela estrada da escola ao (des)qualificá-lo de 'fascista'?
O mérito e a solidariedade são absolutamente compatíveis; e quando não andam de mãos dadas, isso não é um problema de filiação político-partidária: é antes um problema grave de (de)formação moral. Infelizmente, a ausência de instintos generosos e solidários não é apanágio de ricos ou pobres, gordos ou magros, brancos ou amarelos, jovens ou velhos: é, antes, resultado da forma como somos ensinados pela nossa família nuclear a ver o mundo à nossa volta.
E, felizmente, a minha família ensinou-me que o trabalho é o meio privilegiado para atingir alguma independência na vida e que a generosidade e a solidariedade são incontornáveis quando, e se!, somos capazes de ver que há mais mundo para além do nosso umbigo.
A isso chamamos de 'nobreza' de carácter... e não tem nada que ver com fascismo ou democracia!
Fascismo me parece a manutenção destes cérebros mono-neuronais nos corredores do poder.
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