
... cenas da vida finlandesa.
Pois sim, então!
Finalmente, e num golpe da Fortuna,fui até ao Nirvana do ensino: a Finlândia!
Muita curiosidade me inspirava este povo e esta nação onde, e nas palavras religiosamente escolhidas do dr. Sampaio, as escolas são modelo para o resto do mundo! Com esta pérola a martelar-me o inconsciente ,aterrei em Helsínquia!
Primeira impressão : quem morreu???
No aeroporto ( Helsinki-Vanta) o ruído de vozes era mínimo; e, no entanto, estava cheio! os finlandeses não levantam a voz, não gesticulam e gargalham num sussurro!
Chegados a Kuopio - cidade destino - encontrámo-nos com o resto da equipa composta de alemães, belgas e finlandeses, claro.
À saída do hotel, e a caminho do 'trabalho', o cenário envolvente era indescritível: neve por todo o lado; tudo muito branco, muito limpo, muito silencioso. Parecia um mundo à parte - estava sempre a ver quando me cruzava com o pai natal e as renas!!
Primeira paragem: dois dias de visita à escola básica Jinkänlahden koulu. A escola é moderna, com vários edifícios; não há muros nem cercas nem portões. Os miúdos chegam de mochila às costas. Cá fora estão -25 Cº e lá dentro estão 20Cº! Somos amavelmente acolhidos por duas loiríssimas professoras de Inglês, muito simpáticas. Nada de beijos, apenas cumprimentos de mão!
Olho-lhes para os pés: calçam chinelos com meias. Lá é assim: os professores despem os casacos e botas e calçam-se confortavelmente para o resto do seu dia. Os alunos também o fazem, e penduram os seus abrigos em cabides à vista de todos; o conceito ' apropriar-se furtivamente do alheio' não existe, simplesmente!
Os diversos espaços da escola são pequenos e muito acolhedores e estão muito limpos. Os alunos deslocam-se em silêncio pelos corredores e esperam ordeiramente à porta das salas; o professor tem sempre a mesma sala; os alunos transitam. Não há auxiliares de acção educativa (!!!!) e a secretaria tem uma só funcionária!
Os professores têm à sua disposição salas fantasticamente equipadas com tudo o que é bom e útil ao mester, num ambiente tranquilo e confortável- e não levam nada para casa! - e ganham mais 1.500 euros que moi, ao fim de 18 anos de trabalho! As salas de aula - todas! - estão equipadas com a melhor tecnologia disponível. Mas, eis senão quando... a principal dor de dentes do sistema de ensino finlandês é a desmotivação, o desinteresse: os alunos não querem saber de nada já que tudo lhes é proporcionado sem esforço. E vi aulas, e os meus colegas europeus continentais também, onde os meninos faziam o que bem lhes dava na telha- levantavam-se e saiam da sala, brincavam com o telemóvel, ouviam o seu ipod, conversavam em grupo... sem grande alarido, é certo, que eles não falam lá muito alto.
E bom, no melhor pano também cai a nódoa! Não posso negar que é mesmo reconfortante ouvir que os colegas de profissão por essa Europa fora, com muito melhores escolas que nós - em todos os sentidos! - têm as mesmas preocupações, as mesmas dúvidas e as mesmas frustrações! E as mesmas alegrias, claro!
4 comentários:
Os Finlandeses são a prova de que as oportunidades por vezes acontecem, mas também se criam e que olhar o mundo com atenção é uma grande vantagem. Não fosse assim e um povo que tão pouco ou nada fala não estaria na vanguarda da tecnologia das telecomunicações! Abençoada Nokia!
Não concordo muito com a existência de apatia como resultado de condições de trabalho óptimas. Será que quando nos apaixonamos à primeira vista e nos envolvemos, a relação é menos estimada do que outra que resultou de empenho, determinação e árdua conquista? Não creio que por termos de mãos beijadas o que nos aquece o coração que atribuamos menor significado ou sentido.
ó pra ela! vai de borla e ainda põe defeitos?!
Gostei muito de ouvir-te falar sobre a Finlândia, gostei ainda mais de ler as tuas impressões e avaliações sobre a escola finlandesa. Admirável a conjugação do branco da neve com o silêncio, do frio do exterior com o conforto, da bela e implacável natureza com a organização e o conforto do chinelo em público e na escola. Que diferença com os povos do sol, do clima temperado a quente, do latim e do grego.
Esta relatividade cultural é importante porque, desenvolve o conceito de cultura, relativiza as diferenças, humaniza o animal territorial que o homem, em última circunstância ainda é.
A globalização por um lado, homogeniza e universaliza e por outro, localiza à lupa as diferenças tão especiosas e pitorescas como a neve, o pai natal e a organização social dos nórdicos.
A escola, modelo que os gregos inventaram atravessa tempos difíceis. Na nossa era um dos sinais dessas dificuldades, entre outras, é a da motivação para um modo de estudo milenar centrada no pólo mestre- discípulo, professor-aluno. Hodiernamente outras figuras os substituem, eu e a internet, eu e a media, eu e todas as novas formas de aprender, descobrir, estudar, reflectir e discutir. Ainda não estamos capazes de superar o modelo grego talvez nunca, mas as mudanças adivinham-se, exigem-se para que na ordem e organização de uma sociedade como a finlandesa haja também vontade, motivação para a escola.
A tua descrição reflecte um compromisso com a verdade - longe da influência ideológica ou da pompa política - e, por isso, merece um olhar atento de quem procura a verdade e não a ilusão, que em todo o caso o branco ofuscante da neve finlandesa pode provocar a certos espíritos.
Mariaceucosta
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