quinta-feira, março 22, 2007

abandono escolar...

Não é para provocar o riso: é um cartoon, mas ilustra um problema sério dos Estados Unidos: as estatísticas dizem que um milhão de alunos desiste dos seus estudos antes de chegar ao fim do ensino obrigatório, que é de 12 anos.
Lá, como cá, o problema coloca-se, e assume, nas devidas proporções, contornos dramáticos.
Andei a pesquisar sobre o sistema de ensino norte-americano e tem muitas semelhanças com o nosso, sobretudo na sua compartimentação em termos de ciclo/idade dos alunos por ciclo; não consegui, contudo, perceber se os professores americanos também têm a sua progressão inviabilizada pelo fenómeno social do dropout - abandono escolar, mas dito assim é chique a valer...
Mas também não interessa.
O que me interessa é que os Americanos lidam com este problema de uma forma que nada tem a ver com a nossa!
Lá como cá, há meninos que não terminam os seus estudos básicos, e sejam lá quais forem as suas motivações - (desinteresse, falta de dinheiro, limitações raciais ou socioculturais, ou estupidez e deficit neuronal puro e duro...) - elas não pendem como a espada de Damócles sobre a cabeça do professor, porque a nação lhes providencia alternativas reais para, e se assim o desejarem, poderem iniciar a sua vida de trabalho e, num futuro próximo, tornarem-se independentes, tirar a sua carta de condução e fazerem o seu seguro de saúde - as duas condições essenciais para viver com dignidade no país de todas as promessas.
Lá, não é como cá. Cá, qual é a alternativa de um menino que não acaba os seus estudos secundários, sequer o nono ano, seja lá qual for a sua motivação para o abandono? a rua? as obras? o trabalho precário, escravo? Que tem este país a oferecer a estes jovens que não querem estar na escola, porque simplesmente não querem? ...
... (...) ... ??
... (...) ... ??
Acho que quase me atrevo a dizer que 'nenhumas'!
Mas também não interessa nada porque os nossos ministros resolvem a questão atirando as culpas do abandono escolar aos professores - que não os motivam, claro! Sacodem, assim, a água do capote e não tem de encontrar um caminho para um fenómeno que há-de continuar a ter cada vez mais visibilidade.
E eu até os entendo!
Nos EUA não há currículo nem programa nacional - os estados e as suas escolas decidem as suas prioridades - e durante os 12 anos de escolaridade obrigatória eles basicamente , e no mínimo, aprendem a ler, escrever e contar, e pouco mais. Os diplomas ou certificados são atribuídos em diferentes graus: os fracos recebem um certificado; os bons recebem diplomas com honras e recomendações para as melhores universidades - que, por certo, recrutam os melhores alunos das escolas secundárias!
Aqui, cá!, os meninos inscritos nos cursos profissionais nas escolas mais remotas e insulares da rede pública tem de estudar Almeida Garrett, Sophia M. Breyner, Cesário Verde!! É que estes futuros electricistas, cabeleireiras e cozinheiros hão-de ter de discutir uma qualquer metáfora, assíndeto ou epifonema entre uma madeixa, um busca-pólos e umas iscas de escabeche!!! Brilhante!
Acabe-se o secundário com 10 0u 20 valores, saem todos da mesma maneira: com uma cartinha insípida na qual consta um rol interminável de disciplinas (nem me vou pronunciar sobre a utilidade de metade delas!), e a notinha respectiva.
E até continuava com outras razões de ordem mais prosaica, como, por exemplo, a vontade de ganhar dinheiro rápida e facilmente, a falta de visão de futuro com habilitações superiores, o espectro do desemprego para os académicos deste país, o euromilhões, etc,etc,etc
Uma coisa é certa: os miúdos não são todos iguais!
Não são iguais, ponto!
Mas também já percebi o objectivo maior: riscar esta vergonha europeia de viver no país com a maior taxa de iliteracia!
Então, já que andam na escola e andam...

5 comentários:

Afronauta disse...

A mediocridade dos políticos está espelhada nas decisões que tomam. Se se diz que cada país ou povo tem os políticos que merece, em Portugal isso não poderia ser mais verdade. O estado continua a ter um peso real e simbólico muito elevado na vida das pessoas. Nos Estados Unidos da América também existem pimbas, parolos e afins, os "Rednecks", mas não são glorificados pela sociedade, que não vive tão dependente da política como nós.
Quando algum cidadão não se integra passa a "homeless",vive arredado, mas se pertencer a boas famílias e por via das suas incapacidades e não se conseguir afirmar sozinho contribuir positivamente para o engrandecimento do país, ainda assim tem saída e pode ingressar na política e quem sabe, até mesmo chegar à presidência!... O céu é o limite! A diferença é que as instituições de ensino, os verdadeiros "Think Thanks", os bastiões do conhecimento estão em contacto directo e parceria com o sector empresarial e vão de encontro às necessidades de desenvolvimento económico. Também há marginalização, mas não há brandura, candura no tratamento da prevaricação, pois a lei é dura e é efectiva a sua aplicação.
Não creio que exista sociedade tão violenta em todos os aspectos, já que algumas leis são altamente moralistas sem serem moralizadoras. A constituição garante o direito à diferença, mas não é laica. O ego nacional é enorme!
Os EUA são indiscutivelmente uma grande potência e em certos aspectos uma sociedade admirável, mas acontece fazer parte da natureza humana ser-se excepcionalmente bom e em simultâneo fantasticamente medíocre !

Afronauta disse...

Bem, não sei se o sistema de ensino americano funciona melhor que o nosso, é bem provável, mas também não e difícil...mas vejam estas respostas a perguntas de cultura geral e sobretudo de actualidade!...É de fugir a sete pés!...

http://www.youtube.com/watch?v=fJuNgBkloFE

Anónimo disse...

Mas se a culpa não é dos professores então é de quem? mais, alternativas não faltam as drop out. temos os PIEF, os TEIP, os EFA, o rendimento mínimo garantido, o subsídio de desemprego, o chico esperto, o caloteiro, o arrumador... querem mais?! e é bem feita! porque se as escolas fizessem provas globais, nós já saberíamos aferir os diplomas, assim têm de ser todos iguais!!!!


Com neura e neurónio

Anónimo disse...

Não vislumbro nada em que os EUA SEJAM a tal sociedade admirável.Tudo o que me ocorre é uma vontade enorme de mandar em tudo e em todos.

Afronauta disse...

Neura e Neurónio???...