Enquanto trabalho afincadamente num documento dirigido à comissão europeia sobre as dificuldades económicas em África, resolvo distrair-me um pouco e leio o Público online de hoje: para continuar o rol de boas notícias, constata-se neste diário que os pais portugueses não gostam de passar tempo com as suas crianças.
Estatisticamente falando, é claro.
Mas, o "estatiscamente falando" engloba muita coisa, muitas famílias - de bom berço, inclusive - muitas mais crianças e jovens por esse Portugal fora!
Confesso, sem espanto, que não é nada que já não suspeitasse; ainda que este tipo de coisas, para mim, seja mais difícil de verbalizar -pelas consequências que me pode acarretar -do que as piadas ao nosso Primeiro!
Dentre as razões avançadas para justificar esta "falta de gosto" pelo tempo em família estão obviamente, as de cariz fisiológico, - cansaço motivado pelo trabalho, o trânsito, as filas nos transportes, as lides domésticas -, económico, - na ausência do DisneyChannel ou do Panda e de GameBoys e Nintendos, ter de puxar pela telha e pelo cabedal para distrair e divertir os infantes... é trabalho para Hércules - e, claro, emocional - "não há pachorra": "vai à tua mãe que agora tá dar o Benfica!", "vai ao teu pai que agora tou c' a tia ao telefone!"
Mas o artigo, ao comparar portugueses e europeus - estando os últimos muito mais tempo com os filhos - esquece-se de referir que onde nós estamos os europeus já estiveram! Mais uma prova dos tais vinte anos de atraso desta nação face aos irmãozinhos europeus.
Em termos de desenvolvimento económico e social, acabamos mesmo agorinha de aquirir o nosso conforto doméstico - traduzido em fogão, frigorífico, TV e máquina de lavar roupa, seguidos de DVD e computador! e mais que muitos ainda estão a pagar as prestações!!
Por outro lado, as imposições da escolha profissional e as leis laborais estão longe de proteger os interesse da família, sequer do sujeito 'indivíduo'!!
Há que escolher:
tempo de qualidade com as crianças e a família? ... ou uma casa com tudo o que faz falta, um carro para a mãe e outro para o pai, colégio, natação, piano, judo e Inglês para as crianças, roupa nova e calçado todos os meses, férias no estrangeiro, e ainda poder ir ao cinema, ao teatro, e jantar fora pelo menos duas vezes por semana!! ei, esqueci-me do plasma e do ipod!
Também tenho uma querida amiga que me diz que o tempo dedicado à família é tudo para ela
e que inveja a sorte de uma sua próxima que, e segundo ela,
tem tudo o que a minha amiga gostaria de ter:
uma existência pacífica e tranquila, sempre rodeada pela família nuclear.
O que a minha amiga não diz é que, porventura, se a sua próxima tivesse opção de escolha -
e também rendimentos -
não quereria a sua vida:
quereria a dela, a da minha amiga, que tem uma casa soberba com uma piscina maravilhosa e empregada todos os dias, faz férias no estrangeiro todos os anos,
tem um carro só seu, pode proporcionar a melhor educação privada aos seus filhos,
e também tem cão, plasma e ipod!
Há que escolher!E parece-me que todas as nossas escolhas são muito ponderadas, conscientes e ... irreversíveis.
5 comentários:
Há estastisticas que me :(:(:(:(.SÃO NUMEROS.SÃO FRIOS que escondem a realidade do PORQUÊ........
O que interessam as estatísticas? Agora todas as semanas somos bombardeados com elas e eu entenderia se quem as divulga conseguisse que quem as analisa convencesse quem legisla a agir em função dos seus resultados...O problema é que a surdez e a cegueira persistem a não ser quando as estatísticas se chamam sondagens! Até já temos organismos independentes como o INE a serem desacreditados pelo governo que quando calha também coloca em causa as do Eurostat.
Quando não há notícias fala-se em estatísticas.
Qualquer dia teremos investigadores a fazer a contagem do número diário de grunhidos dos porcos ou quantas vezes as vacas levantam a cabeça do monte de feno para olhar a paisagem.
Parece que damos cada vez mais importância às contagens e menos às realizações.
A economia GLOBAL ... o individuo perdeu identidade ... Temos que usar os seus meios , e este é um bom canal, para humanizarmos e transmitir que " small is beautiful" e "amo-te".
Se as criancinhas que temos na escolas se comportam do mesmo modo em casa, eu também não quereria passar mais tempo com elas!
As nossas escolhas são muito ponderadas, conscientes e irreversíveis. São feitas com os dados que temos à disposição na altura, com a convicção de que estamos a cumprir o nosso dever, o de fazer o melhor, não só para nós, como também para os outros, principalmente para os que dependem de nós. Às vezes corre bem. (a casa é tua)
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