domingo, maio 20, 2007

O mellhor do mundo são as crianças - parte II

Enquanto trabalho afincadamente num documento dirigido à comissão europeia sobre as dificuldades económicas em África, resolvo distrair-me um pouco e leio o Público online de hoje: para continuar o rol de boas notícias, constata-se neste diário que os pais portugueses não gostam de passar tempo com as suas crianças.
Estatisticamente falando, é claro.
Mas, o "estatiscamente falando" engloba muita coisa, muitas famílias - de bom berço, inclusive - muitas mais crianças e jovens por esse Portugal fora!
Confesso, sem espanto, que não é nada que já não suspeitasse; ainda que este tipo de coisas, para mim, seja mais difícil de verbalizar -
pelas consequências que me pode acarretar -
do que as piadas ao nosso Primeiro!
Dentre as razões avançadas para justificar esta "falta de gosto" pelo tempo em família estão obviamente, as de cariz fisiológico, - cansaço motivado pelo trabalho, o trânsito, as filas nos transportes, as lides domésticas -, económico, - na ausência do DisneyChannel ou do Panda e de GameBoys e Nintendos, ter de puxar pela telha e pelo cabedal para distrair e divertir os infantes... é trabalho para Hércules - e, claro, emocional - "não há pachorra": "vai à tua mãe que agora tá dar o Benfica!", "vai ao teu pai que agora tou c' a tia ao telefone!"
Mas o artigo, ao comparar portugueses e europeus - estando os últimos muito mais tempo com os filhos - esquece-se de referir que onde nós estamos os europeus já estiveram! Mais uma prova dos tais vinte anos de atraso desta nação face aos irmãozinhos europeus.
Em termos de desenvolvimento económico e social, acabamos mesmo agorinha de aquirir o nosso conforto doméstico - traduzido em fogão, frigorífico, TV e máquina de lavar roupa, seguidos de DVD e computador! e mais que muitos ainda estão a pagar as prestações!!
Por outro lado, as imposições da escolha profissional e as leis laborais estão longe de proteger os interesse da família, sequer do sujeito 'indivíduo'!!
Há que escolher:
tempo de qualidade com as crianças e a família? ... ou uma casa com tudo o que faz falta, um carro para a mãe e outro para o pai, colégio, natação, piano, judo e Inglês para as crianças, roupa nova e calçado todos os meses, férias no estrangeiro, e ainda poder ir ao cinema, ao teatro, e jantar fora pelo menos duas vezes por semana!! ei, esqueci-me do plasma e do ipod!
Também tenho uma querida amiga que me diz que o tempo dedicado à família é tudo para ela
e que inveja a sorte de uma sua próxima que, e segundo ela,
tem tudo o que a minha amiga gostaria de ter:
uma existência pacífica e tranquila, sempre rodeada pela família nuclear.
O que a minha amiga não diz é que, porventura, se a sua próxima tivesse opção de escolha -
e também rendimentos -
não quereria a sua vida:
quereria a dela, a da minha amiga, que tem uma casa soberba com uma piscina maravilhosa e empregada todos os dias, faz férias no estrangeiro todos os anos,
tem um carro só seu, pode proporcionar a melhor educação privada aos seus filhos,
e também tem cão, plasma e ipod!
Há que escolher!
E parece-me que todas as nossas escolhas são muito ponderadas, conscientes e ... irreversíveis.

5 comentários:

Anónimo disse...

Há estastisticas que me :(:(:(:(.SÃO NUMEROS.SÃO FRIOS que escondem a realidade do PORQUÊ........

Afronauta disse...

O que interessam as estatísticas? Agora todas as semanas somos bombardeados com elas e eu entenderia se quem as divulga conseguisse que quem as analisa convencesse quem legisla a agir em função dos seus resultados...O problema é que a surdez e a cegueira persistem a não ser quando as estatísticas se chamam sondagens! Até já temos organismos independentes como o INE a serem desacreditados pelo governo que quando calha também coloca em causa as do Eurostat.
Quando não há notícias fala-se em estatísticas.
Qualquer dia teremos investigadores a fazer a contagem do número diário de grunhidos dos porcos ou quantas vezes as vacas levantam a cabeça do monte de feno para olhar a paisagem.
Parece que damos cada vez mais importância às contagens e menos às realizações.

Anónimo disse...

A economia GLOBAL ... o individuo perdeu identidade ... Temos que usar os seus meios , e este é um bom canal, para humanizarmos e transmitir que " small is beautiful" e "amo-te".

Anónimo disse...

Se as criancinhas que temos na escolas se comportam do mesmo modo em casa, eu também não quereria passar mais tempo com elas!

Anónimo disse...

As nossas escolhas são muito ponderadas, conscientes e irreversíveis. São feitas com os dados que temos à disposição na altura, com a convicção de que estamos a cumprir o nosso dever, o de fazer o melhor, não só para nós, como também para os outros, principalmente para os que dependem de nós. Às vezes corre bem. (a casa é tua)